O massacre no córrego
Tapuru
Os massacres contra os índios nas Américas acontecem desde a sua "descoberta" por Cristóvão Colombo em 1492. Infelizmente continuam até hoje.
O massacre no córrego Tapuru, afluente da margem direita do rio Cravari ou Crauari, município de Brasnorte, MT, foi primeiro grande massacre contra os Manoky. Aconteceu em 1900. Foi praticado por seringueiros comandados por Domingos Antonio Pinto. Todos os indígenas daquela aldeia ou foram assassinados a tiro de carabina ou morreram queimados dentro de suas ocas.
Este e outros massacres motivaram o Papa Pio X a escrever a Encíclica “LACRIMABILI STATU” manifestando preocupação com os índios das Américas, mas em especial com os indígenas do Brasil, em 1912.
Quem relata a triste
história do massacre do Tapuru é o Marechal Rondon:
“O tristíssimo acontecimento a que alludo passou-se pouco tempo depois
de se ter estabelecido Antonio Pinto, com os seus camaradas, nos seringaes de Corecê-inazá.
Nada se deve temer da índole pacifica e até mesmo tímida dos
Iranches.
Mas, apesar disso, o truculento seringueiro entendeu que era
necessario expellil-os das proximidades do ponto em que se estabelecera; e como
por alli existisse uma aldeia assentou dar-lhe cerco, com o auxilio dos
camaradas, todos armados de carabinas. Pela madrugada, ao recomeçar a
quotidiana labuta daquella miserrima população, a scelerada emboscada rompeu
fogo, abatendo os que primeiro sahiam das casas para o terreiro. Os que não
morreram logo encerraram-se nas palhoças, na vã esperança de encontrarem ahi
abrigo contra a sanha de seus barbaros e gratuitos inimigos. Estes, porem, já
estavam exaltados pela vista do sangue das primeiras victimas e nada os impedia
de darem largas á sua fome de carnagem. Então, um delles, para melhor trucidar
os miserrimos foragidos resolveu trepar á coberta de um dos ranchos, praticar
nella uma abertura e por esta, mettendo o cano da carabina, foi visando e
abatendo uma após outras, as pessoas que lá estavam, sem distinguir sexos nem
idades. Acuados assim com tão execravel impiedade, os indios acabaram tirando
do proprio excesso de seu desespero a inspiração de um movimento de revolta;
uma flecha partiu “a primeira e unica desferida em todo este sanguinoso drama”
mas, essa embebeu-se na glote do crudelissimo atirador, que tombou sem vida. A
só lembrança do que então se seguiu faz tremer de indignação e vergonha! Onde
haverá alma de brasileiro que não vibre unisona com a nossa, ao saber que toda
aquella população, homens, mulheres e crianças, morreu queimada, dentro de suas
palhoças incendiadas?!
Não vos quero atormentar, nem tambem torturar os meus
sentimentos de homem, demorando-me em commentar semelhante exicio, infligido a
um povo inoffensivo e cheio de brandura, ao qual nem ao menos se podia accusar
de haver tentado embargar o passo ao desenfreado invasor de suas florestas. E’
bastante que entre vós, brasileiros que viveis no meio dos confortos e
seguranças das grandes cidades, se façam ouvir de quando em vez uns longínquos
e apagados echos dos brados de desespero e de dôr de que esses outros
brasileiros vão enchendo os derradeiros recantos bravios da patria querida.
Então, a onda amorpha dos forasteiros poderá continuar a crescer, ameaçando inundar
e abafar os ultimos vestígios da nossa nacionalidade; mas ao menos não se
lançará sobre o tumulo mal fechado do miserando povo americano a suprema
injuria de lhe arrancar a corôa do martyrio para com ella glorificar a memoria
dos seus algozes.” [1]
[1] RONDON, Cândido Mariano da Silva. CONFERENCIAS realizadas em 1910 no Rio de
Janeiro e em S. Paulo, Typographia Leuzinger, Rio de Janeiro, 1922, pp
97-98.
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